II - Consequências do excesso de produção de colesterol. Uma das formas de «manifestação» do colesterol em excesso é o vulgarmente chamado «ataque de coração», o enfarte do miocárdio. O nosso músculo cardíaco, o coração, é irrigado por um sistema de artérias chamadas, por esse facto, «coronárias». Elas são três: a artéria coronária direita, a artéria coronária esquerda e a circunflexa (ver a figura abaixo). Sempre que, em consequência do gradual depósito de gordura (neste caso de colesterol) na parede interna dessas artérias, se forma uma placa, a que se chama «ateroma», a obstrução do canal desencadeia o bloqueio de fornecimento do oxigénio de que o músculo cardíaco necessita para se manter em movimento. Eis uma imagem retirada de O Livro do Coração, do Prof. Fernando de Pádua, com a indicação ilustrada dessas artérias - veja-se, em particular, a imagem superior:
O depósito de colesterol sob a forma de uma placa endurecida e progressivamente obstrutiva é um processo silencioso. À medida em que ele avança, o estreitamento gradual da passagem do sangue, que lhe está associado, converge com a acção de outros factores, cuja variação se vai fazendo sentir, à medida que os hábitos sedentários se instalam com a idade (e às vezes até com a profissão) e os abusos alimentares se tornam «hábitos naturais». Um desses factores é a elevação da chamada «tensão arterial». Para além das «gorduras saturadas» (ver-se-á, depois, em que isto consiste), do sal e do açúcar que incluímos na nossa alimentação, é preciso contar também, não apenas com o stress físico e emocional, mas também com hábitos como o do tabaco, cuja «nicotina» (de entre as cerca de 4.000 substâncias nocivas ao organismo que um cigarro contém) vai tornando as nossas veias menos elásticas, cada vez mais rígidas e, portanto, menos resistentes às variações de pressão sanguínea no seu interior.
Para compreender um pouco melhor aquilo de que se fala, quando se fala de «tensão arterial», evitando-se assim cair em abstracções que são pouco convincentes e motivadoras para o leitor, ou mais simplesmente noções mais vagas e dissociadas da realidade, aqui fica a definição sucinta que o Professor Doutor Fernando de Pádua (quem não se lembra dele, sempre de lacinho, a falar-nos, na televisão, no Dia do Coração, dos cuidados de saúde necessários com o nosso coração, com a alimentação, ou dos malefícios do tabaco, etc) dela nos dá, no seu O Livro do Coração: «a tensão arterial é a tensão na parede das artérias, distendidas pela pressão do sangue no seu interior [...]. A HTA [a Hiper-Tensão Arterial...] evolui silenciosamente ao longo das décadas da vida, pois não provoca quaisquer sintomas. [...] Acaba depois por se revelar pelas lesões que vão aparecendo em vários órgãos-alvo: o coração, os rins, o cérebro, os olhos, a começar pela parede das próprias artérias.» (PÁDUA, Fernando de, O Livro do Coração: Viver mais e melhor - descubra como ser o melhor amigo do seu coração, Lisboa, Academia do Livro, 2008).
Portanto, nem a «pressão» exercida pelo sangue, nas paredes internas das veias, é constante, nem o estado de «tensão» destas últimas - pois a tensão há-de ser, no tecido de um elástico, tanto maior quanto mais esticado ele estiver e, tal como um tecido com menor elasticidade, as artérias tornam mais propensas a rupturas e à consequente coagulação do sangue, em contacto com qualquer coisa que não seja a parede interna da veia. Essa coagulação ocasiona de imediato a formação de um trombo, um obstáculo à passagem do sangue. Uma vez que as nossas noções acerca daquilo em que consiste uma artéria ou qualquer dos segmentos do nosso sistema vascular são habitualmente nulas (a escola portuguesa é completamente omissa nesses e noutros assuntos, respeitantes aos hábitos alimentares, etc) aqui fica, antes de mais nada, a ilustração do corte tranversal de uma veia, que nos mostra o quão complexa é a sua estrutura e onde podemos distinguir as camadas elásticas que ela possui.
Como se pode ver pela figura, em particular na parte interna das camadas concêntricas e encaixadas que a formam, a camada de coloração verde mais grossa contém duas partes com as seguintes designações: «membrana elástica interna» e «lâmina elástica exterior». Ao leitor bastará clicar sobre a imagem para a poder ampliar e acompanhar esta referência. Ora, a «tensão» a que é exposta a artéria coronária depende de causas ligadas à nossa vida psicossocial - emoções fortes, stress continuado, cansaço acumulado - e cultural - hábitos tabágicos, alimentares, de álcool, etc. É portanto aqui que entram as determinações cujo controlo podemos procurar estabelecer, pelo menos em muito grande parte. As gorduras saturadas em geral (contidas nas carnes de vaca, de porco e de frango, nos enchidos de toda a sorte, nos molhos, nos óleos), o sal e os diversos açúcares (e, por isso, importa perceber em que consiste o «índice glicémico» dos alimentos, visto que esses açúcares, incorporados pela ingestão de bolos, de certas frutas, etc. são depois convertidos em gordura) são elementos que determinam a evolução do colesterol no organismo e a elevação da tensão arterial. A figura seguinte mostra uma das consequências dessa lenta formação.